Faz 10 anos: Vampire Weekend - Modern Vampires of the City
"Vampire Weekend, they always tell the truth."
Quando surgiram com a estreia de 2008, os Vampire Weekend foram muitas coisas para muita gente. Amados e odiados como quase toda a cena de Brooklyn dos 2000s, Ezra Koenig e companhia foram acusados de pelo menos duas coisas:
1 - Conjunto de putos ricos privilegiados que cantavam coisas de putos ricos privilegiados
2 - Grupo de putos saqueadores de um som de inspiração africana, mas que, para o situar, a crítica comparou ao de Paul Simon de Graceland.
Mas o que é que o tempo nos disse sobre os Vampire Weekend? Chegados a Modern Vampires of the City, esse som supostamente inspirado em Graceland já não é de todo perceptível, o 3.º disco da banda foi apontado como um disco de produtor (Rostam Batmanglij), mas o que une os primeiros três (e o 4.º, já agora) discos dos Vampire Weekend é outra coisa, é a palavra. As palavras que foram imortalizando ao longo destes primeiros 5 anos. Logo à 2ª canção do homónimo de estreia, duas frases para a eternidade. Logo a abrir:
“Who gives a f*ck about an Oxford comma?” que deu origem a um artigo na Vanity Fair. A frase nasce de um grupo de Facebook: Students for the Preservation of the Oxford Comma. Sim, ainda existe.
E mais tarde:
“Why would you lie 'bout anything at all?
First the window, then it's to the wall
Lil Jon, he always tells the truth”.
A referência ao rapper vem daqui e ajuda-nos a cimentar este ponto da importância da palavra para os Vampire Weekend, pois não é caso único. A 3.ª canção de Modern Vampires é a muito celebrada “Step” que começa com:
“Every time I see you in the world, you always step to my girl.” Citação directa a “Step to My Girl” dos Souls of Mischief. A “miúda” a que a canção dos Vampire Weekend se refere tem sido, com algum consenso, interpretada como uma metáfora para “música”. Sobre “Step” e a escrita de canções, Koenig disse à Stereogum em 2019:
“I had a feeling that when I wrote ‘Step,’ it was what I had been trying to do the whole time. It’s not gonna get better than that. That, to me, is the peak of that type of songwriting.”
Modern Vampires traz ainda um outro tipo de palavra, a Palavra Bíblica, é um disco de busca espiritual ou, vá, o colocar de uma das mais velha das questões humanas: o que andamos aqui a fazer? Nesse campo, os títulos das canções são bastante claros: “Unbelievers”, “Everlasting Arms”, “Worship You” e “Ya Hey”.
O que terá tornado um disco com características tão próprias no álbum do ano mais consensual de 2013? Eventualmente o facto deste ser um ano a que demos muita importância à palavra. É o ano de Yeezus, de Kanye, da estreia dos Run the Jewels, de Trouble Will Find Me dos National, de Muchacho de Phosphorescent, Doris de Earl Sweatshirt, Acid Rap de Chance The Rapper, Silence Yourself das Savages e AM dos Arctic Monkeys. Mesmo os mais celebrados discos de música de dança garantiram um lugar de destaque às palavras: Reflektor dos Arcade Fire, Random Access Memories dos Daft Punk e Settle dos Disclosure. 2014 haveria de abrir com Benji, de Sun Kil Moon, o 1.º disco unânime do ano e essencialmente em registo spoken word.
Para terminar, fica mais um conjunto de frases eternas e um tweet que o Musk já não deixa incorporar:
“Feels so unatural Peter Gabriel too.” (“Cape Cod Kwassa Kwassa”)
“In December drinking horchata” (“Horchata”)
“You ought to spare the world your labor / It’s been twenty years and no one’s told the truth.” (“Obvious Bicycle”)