Já tínhamos ouvido Kendrick Lamar a antencipar Good Kid, M.A.A.D City em “The Recipe”, que viria a ser faixa bónus. Mas é com “Swimming Pools (Drank)” que o rapper começa a “roubar” 2012, sem dúvida o Ano Kendrick Lamar. E numa semana o assunto fica tudo despachado: a canção sai a 31 de julho, o vídeo a 3 de Agosto.
A análise a “Swimming Pools” é indissociável do contexto que a alberga, o do disco. Basta olhar para a capa do álbum (em cima) para percebermos que Good Kid é extremamente pessoal. E é por isso que está lá uma fotografia de infância, em que, ao lado de um inocente e bebé K-Dot, surgem dois tios e o avô, sendo este último a representação de uma infância que viu mais do que devia e que acabaria por o influenciar para sempre.
“Granddaddy had the golden flask”, diz logo a abrir o primeiro verso.
A capa do single deixa ainda menos dúvidas: “Swimming Pools” é uma metáfora para o vício em álcool e a luta pessoal inerente a quem quer colocar a cabeça de fora. No refrão ouve-se:
”First, you get a swimming pool full of liquor, then you dive in it.”
Abrindo um pouco a questão ao foro neurológico, e não querendo saltar muito para fora de pé, o título do disco pode ser uma alusão a uma inocência perdida pelo contexto social em que o indíviudo está inserido. No Genius, o rapper anotou o arranque da canção, mas a ideia é abrangente o suficiente para sumarizar o tema na sua plenitude:
“This song is about me reminising about my years a kid witnessing a housing that indulged adults in alcohol. So much alcohol that it could fill a swimming pool. Eventually that me reminising became a reality when i became an adult.”
Mas Kendrick assume que o problema não é apenas o avô e o contexto familiar de Compton. “Swimming Pools” é tão importante e influente que já serviu de base para intensas análises, estudos académicos, ensaios e objeto de estudo em escolas. Numa visita à Bethel High School explica que boa parte do disco é sobre pressão social para beber mais:
A 4.ª canção do disco trata precisamente esse tema e isso está explicito no título “The Art of Peer Pressure”. Ainda no 1.º verso:
“Some people wanna fit in with the popular, that was my problem.”
Resumindo: há uma clara separação em 2 momentos, ideia que sai reforçada pelo vídeo: o primeiro momento equivale ao 1.º verso, em que descreve a relação familiar com o álcool e uma segunda, no 2.º verso, em que aponta a “peer preasure”, a pressão social.
Até aqui focámo-nos principalmente na origem de um problema com o álcool e a dificuldade que é para o protagonista, perante esse mesmo problema, a tal intenção de manter-se à tona. Mas vale a pena explorar um pouco mais o 2.º verso em que a canção faz uma extraordinária sátira aos efeitos do álcool:
“I think that I'm feelin' the vibe, I see the love in her eyes
I see the feelin', the freedom is granted as soon as the damage of vodka arrived
This how you capitalize, this is parental advised, and apparently, I'm over-influenced
By what you are doin', I thought I was doin' the most 'til someone said to me”
Mas a pedra de toque será ter todo este peso lírico enquanto a estrutura da canção e o refrão são perfeitamente celebráveis num clube ou numa discoteca, qual perfeita ironia e aparente contradição neste brinde à bebedeira que é ao mesmo tempo voz da consciência para os muitos que o ouvem com atenção. Este é o toque de Midas que dá a “Swimming Pools” o definitivo selo de canção ímpar não só na última década, mas na história da música popular.
O produtor T-Minus revelou ao Beat Break da DJBooth que a canção foi originalmente pensada para um artista r&b, nomeadamente para Tery Songz, mas Kendrick agarrou o tema e transformou-o num clássico intemporal.
Já agora, se possível, responde à seguinte questão: